O que é a Psicologia Analítica?





Em 26 de julho de 1875, em Keswill – aldeia do cantão da Turgóvia, nasce aquele que viria a ser um dos maiores pensadores do século XX, Carl Gustav Jung; psiquiatra suíço, colaborador de Freud nos primórdios do movimento psicanalítico e fundador da escola de Psicologia Analítica.
A Psicologia Analítica é uma escola da psicologia profunda que estuda especialmente o inconsciente e suas manifestações. Segundo Edinger, Jung nos apresenta a mais ampla e abrangente visão da psique humana disponível até então. Segundo o autor, seus escritos incluem uma teoria bem desenvolvida em relação à estrutura e dinâmica da psique em ambos os seus aspectos consciente e inconsciente. Ademais, ele apresenta uma detalhada teoria sobre os tipos psicológicos, além de uma descrição de imagens universais, os arquétipos do inconsciente coletivo, que derivam de camadas profundas do psiquismo. Seu extenso arcabouço teórico, que incluía alquimia, mitologia e o estudo comparado das religiões, permitiu que Jung descobrisse paralelos entre as imagens produzidas pelo inconsciente de seus pacientes em sonhos, visões e representações plásticas com os motivos universais encontrados nas religiões e mitologia de todas as épocas.    
Enquanto escolas da psicologia profunda, a Psicologia Analítica se diferencia da Psicanálise de Freud na medida em que, além do estudo do inconsciente pessoal, ela também se dedica a compreensão dos fenômenos universais contidos no Inconsciente Coletivo. Edinger acredita que o conceito de inconsciente coletivo confere à Psicologia Analítica uma dimensão a mais quando comparada a outras escolas de psicoterapia, já que este conceito destaca a teoria e prática da psicoterapia de seu caráter puramente psicopatológico, relacionando-as com a história da evolução da psique humana em suas manifestações culturais. Desta forma, a prática analítica não seria apenas uma terapia para a neurose, mas também uma técnica que facilitaria o desenvolvimento psicológico integral do indivíduos.
Atualmente, a Psicologia Analítica se divide em três vertentes: a Escola Clássica, mais fiel ao pensamento original de Jung e representada por nomes como Marie-Louise von Franz, Jolande Jacobi, Aniela Jaffé, entre outros. A Escola Desenvolvimentista, que enfoca seus estudos na infância e seu desenvolvimento, fazendo uma ponte entre a teoria de relações objetais de Melanie Klein e a psicologia analítica clássica; tendo como principais representantes os analistas Ingleses Michael Fordham e Frieda Fordham. Finalmete, a Escola Arquetípica, que com seu estudo das imagens simbólicas relativiza a noção de ego, se focando na psique ou alma e cujo principal representante seria James Hillman.  
Na psicoterapia de abordagem analítica, o principal propósito do um processo seria o de reestabelecer uma comunicação saudável entre conteúdos inconscientes e a consciência. Neste processo o ego se fortaleceria pela integração de sua sombra, ou seja, aspectos inconscientes da personalidade do indivíduo. Ao se mover em direção direção à inteireza, o indivíduo também estabeleceria um relacionamento mais frutífero com sua contraparte sexual, Animus ou Anima (a porção masculina na psique feminina e a porção feminina na psique masculina);  para finalmente estabelecer contato com sua totalidade psíquica, o Self. Nestes termos, a análise seria facilitadora do processo de individuação.
A individuação é o processo através do qual o indivíduo evolui para um estado de maior diferenciação em relação ao coletivo, o que pressupõe uma ampliação de sua consciência. Neste processo, o indivíduo identifica-se menos com as condutas e valores encorajados pelo meio no qual se encontra e mais com as orientações emanadas de seu eu mais profundo. De acordo com Jung, o processo de individuação seria a meta da psique e eventuais resistências do ego em permitir o desenrolar natural deste processo seria uma das causas de sofrimento psíquico e desajustes psicológicos, já que o inconsciente tentaria compensar a unilateralidade da disposição consciente através da enantiodromia, ou seja, constelando o seu oposto. Ao contrário do que se possa imaginar, Jung afirma que o processo de individuação não entra em conflito com a norma social, uma vez que, à seu ver a questão da adaptação ao colectivo também faz parte do processo, favorecendo inclusive a adaptação e inserção do indivíduo em seu ambiente.


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