O Deserto da Alma
Imagens Alquímicas na Operação de Calcinatio
Eu os convido a adentrar o mundo
anímico da alma, aonde o tempo é kairós; utilizando as funções de intuição, sensação e sentimento. O deserto
como o lugar da Alma não poderia ser transmitido de outra maneira, senão pela
linguagem típica do inconsciente: a imagem simbólica.
Serão aqui evocadas imagens alquímicas
da operação de calcinatio; resultado de experiência imediata, conforme descrita
por Von Franz, fruto de trabalho em análise, sonhos, desenho e pintura.
A elaboração desta apresentação
é, para mim, como a criação de um trabalho artístico; pois, como diz Barcellos,
é impossível compreender a Alquimia psicologicamente sem a entrada na metáfora,
na poiésis da matéria. Tentaremos aqui fugir do racionalismo conceitual para
explorar uma dimensão mais próxima ao que Hillman chamou de palavras-imagem,
palavras-arte.
Dentro dos quatro estágios
clássicos do calor, experimentaremos mais detalhadamente o terceiro grau,
aquele comparado ao calor produzido pela areia escaldante e recomendado,
portanto, a operação de calcinatio: a redução de corpos em cal pela queima.
Segundo Hillman, a redução da confusão a uma essência, de lembranças nebulosas
a uma imagem pungente, o coração quente da coisa, a redução máxima por meio do
calor.
Uma Opus contra natura, que objetiva acelerar
processos naturais e alcançar a perfeição da substancia, leia-se, sua essência.
A alma que pede para ser trabalhada, inocente, ignorante, e portanto, perigosa,
nos alerta Hillman, caso mantida em seu estado natural. O cru pedindo para ser
cozido, base arquetípica de idéias de evolução, progresso e perfeição.
“Perfeição da substância”, não do sujeito. A arte e prática alquímicas à
serviço da natureza, da Anima Mundi. Conheça seu fogo, conheça sua matéria,
sugere ele. A madeira preteja, a pedra embranquece, cada material incendeia a
sua maneira. A quantidade e qualidade do calor no trabalho analítico devem ser
determinadas pelo material com a qual se trabalha, enquanto que o fogo para o
processo vem da frustração das exigências de poder do ego.
Em sua biografia, Jung afirma que do confronto com seu
próprio inconsciente, descrito no Livro Vermelho, emerge todo o material a
partir do qual, subsequentemente, ele construiria a sua teoria da psique.
Portanto, é a partir de dois textos do Liber Primus – O Deserto e Experiências
no Deserto – que faremos nossa entrada na idéia arquetípica de calcinatio.
O texto e o video a seguir são parte integrante do trabalho de conclusão da especialização em Psicologia Analítica na Unicamp.
O texto e o video a seguir são parte integrante do trabalho de conclusão da especialização em Psicologia Analítica na Unicamp.
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