O outro que vive em mim


Freud, em sua obra “O mal estar da civilização”, chega a conclusão de que a repressão de nossos instintos, desejos e sentimentos mais obscuros seria o preço que pagamos pela manutenção do equilíbrio social. Segundo ele, sem tal repressão a civilização e a convivência grupal se tornariam impraticáveis.
No entanto, Jung vai além. Para ele, impulsos auto-destrutivos e sentimentos socialmente inaceitáveis fazem parte da natureza humana. Enquanto conteúdos que não aceitamos e não admitimos possuir, estes ficam relegados a nossa sombra.
A diferença de pensamento entre os autores reside no fato de que, enquanto que para Freud a repressão destes conteúdos seria aquilo que possibilitaria a convivência em sociedade; para Jung, a repressão destes sentimentos, emoções e instintos apenas confeririam mais força e autonomia a estes, possibilitando a formação de complexos autônomos  capazes de se impor à vontade do ego; resultando em atos que o indivíduo conscientemente não deseja realizar mas que, no entanto, não consegue evitar.
Para ele, a única maneira de diminuir a influência autônoma de tais conteúdos sobre vontade consciente do indivíduo seria a corajosa capacidade de confrontar-se com tais conteúdos, admitindo sua existência, dialogando com eles e por fim, encontrando maneiras socialmente aceitáveis para a expressão e vivência de tais conteúdos.
Desta maneira, se reduziria a pressão causada pelo inconsciente e os consequentes sentimentos de angústia, ansiedade e depressão ocasionados por conteúdos reprimidos. Permitindo assim, que o indivíduo vivencie suas potencialidades respeitando sua natureza mais profunda.
Portanto, o que Freud considera importante – diga-se a repressão – para a manutenção da ordem social, para Jung é justamente o que provoca o desconforto psíquico que irá desencadear uma série de comportamentos socialmente inadequados ou inaceitáveis, de maneira pouco ou nada controlada pela personalidade consciente. Respeitar a natureza mais profunda de seu próprio ser seria, nesta perspectiva, a solução para muitos conflitos que vivemos em sociedade. Este seria o trabalho de uma vida inteira rumo ao processo de individuação conforme proposto por Jung.
Posto que trata-se de uma obra de auto-ajuda e todas as limitações que isto implica; podemos ver estes conceitos explicados de maneira mais acessível ao público em geral na obra “O efeito sombra” de Deepak Chopra, Debbie Ford e Marianne Williamson. Este me parece o primeiro passo para a conscientização geral a respeito dos conteúdos internos que projetamos no mundo exterior. 



Obra: Raiz
Por: Eni Ilis

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