Transtorno do Humor Bipolar
Entrevista concedida à rádio Unasp, programa Primeira Página.
O que é o Transtorno de Bipolaridade?
O transtorno bipolar é um distúrbio do humor. O paciente acometido pela a doença oscila entre estados de mania e depressão. Na fase maníaca o indivíduo fica em um estado de hiperatividade física e mental, ele se sente eufórico, alegre, com o humor excessivamente elevado; enquanto que na fase depressiva ele sente tristeza, ansiedade, inibição, uma lentidão para conceber e realizar idéias.
Todos nós passamos por altos e baixos na vida, isso não caracteriza bipolaridade. O que é vivênciado pelo paciente bipolar tem um carater muito mais profundo. A perturbação do humor nestes casos, causa grande prejuízo no ajustamento social da pessoa, causa problemas no trabalho, nos relacionamentos, nas atividades sociais. Em casos graves. Pode até ser necessário a hospitalização do paciente, para evitar que ele cause danos a si mesmo e aos outros.
Na fase maniaca, um dos principais problemas é o indivíduo se endividar, abusar de drogas e/ou ter relações sexuais com diversos parceiros diferentes por conta da libido aumentada. Enquanto que na fase depressiva, o maior risco seria o suicidio. Em geral, cada fase dura duas semanas ou mais e elas podem ser intercaladas por periodos assintomáticos. No entanto, isso pode variar bastante de um indivíduo para o outro.
O que causa a doença?
Não existem estudos conclusivos a respeito das causas da doença. O que se sabe é que ela possui uma prevalência genética, ou seja, filhos de portadores possuem risco aumentado de apresentar a doença. Além disso, 50% dos portadores têm pelo menos um familiar afetado. No entanto, o gene que seria o causador da doença ainda não foi encontrado. Possuir a propensão genética também não é determinante para o desenvolvimento da doença. Em casos de gêmeos univitelinos, que possuem a mesma carga genética e que possuem a propensão, é possível que um deles desenvolva a doença e o outro não.
Também se sabe que fatores neuroquimicos estão envolvidos no quadro bipolar. Os níveis de neurotransmissores como dopamina, serotonina, noradrenalina e GABA (ácido Gama-Aminobutirico) parecem estar envolvidos nos estados de depressão e mania. O abuso de álcool e a utilização de drogas ilícitas também podem desencadear os episódios maníaco-depressivos.
Como se manifesta a doença?
Em geral, a doença se manifesta pela primeira vez por volta dos 20 ou 30 anos. No entanto, isso também pode variar bastante. Existem casos de crianças e adolescentes que também são acometidos.
O Transtorno do Humor Bipolar pode se manifestar de diversas formas diferentes, por isso existe o que os médicos chamam de espectro bipolar. Porque a intensidade e a duração dos episódios podem variar muito de uma pessoa para a outra.
Portanto, se classifica o Transtorno do Humor Hipolar em:
TIPO I: Predomínio da fase maniaca com depressão mais leve (distimia).
TIPO II: Predomínio da fase depressiva com mania mais leve (hipomania).
MISTA: Quando os episódios possuem várias características tanto de mania quanto de depressão simultaneamente.
CICLOS RÁPIDOS: Quando os episódios de variações do humor duram menos de uma semana. ( pois, em geral, os episódios duram mais de duas semanas)
CICLOTIMIA: Quando tanto os sintomas depressivos quanto os sintomas maniacos são leves, porém persistentes, alternando por um periodo de pelo menos 2 anos.
De que outras maneiras ela pode se manifestar?
Em casos graves, podem haver surtos psicóticos, nos quais o paciente apresenta alucinaçõese delirios de grandeza.
Como se diagnostica a doença?
O diagnóstico é feito pelo psiquiatra a partir do relato dos sintomas seguindo os parâmetros do DSM ( que é um manual utilizado por médicos para o diagnóstico de doenças).
Para identificar a fase maníaca, o que o psiquiatra vai observar é se o paciente apresenta pelo menos 3 dos seguintes sintomas, por pelo menos uma semana:
- Auto-estima inflada ou sentimento de grandiosidade
- Necessidade de sono diminuída (por ex., sente-se repousado depois de apenas 3-4 horas de sono)
- Mais eloquente do que o habitual ou pressão por falar
- Fuga de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão muito acelerados
- Distratibilidade (isto é, a atenção é desviada com excessiva facilidade para estímulos externos insignificantes ou irrelevantes)
- Aumento da atividade dirigida a objetivos (socialmente, no trabalho, na escola ou sexualmente) ou agitação psicomotora
- Envolvimento excessivo em atividades prazerosas com um alto potencial para consequências dolorosas (por ex., envolvimento em surtos incontidos de compras, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros tolos)
Para diagnosticar a fase depressiva, o psiquiatra vai observar se o paciente apresenta 4 ou 5 dos sintomas que vou relatar por 2 semanas
- Estado deprimido: sentir-se deprimido a maior parte do tempo;
- Anedonia: interesse diminuído ou perda de prazer para realizar as atividades de rotina;
- Sensação de inutilidade ou culpa excessiva;
- Dificuldade de concentração: habilidade frequentemente diminuída para pensar e concentrar-se;
- Fadiga ou perda de energia;
- Distúrbios do sono: insônia ou hipersônia praticamente diárias;
- Problemas psicomotores: agitação ou retardo psicomotor;
- Perda ou ganho significativo de peso, na ausência de regime alimentar;
- Ideias recorrentes de morte ou suicídio.
Como se trata a doença?
No caso do transtorno de humor bipolar é muito importante que haja a terapia medicamentosa com estabilizadores de humor. No entanto, só a utilização de medicação não se mostra eficaz, especialmente em casos que envolvam o consumo de álcool e drogas. A psicoterapia em conjunto com a medicação mostra resultados muito mais eficazes.
Com o uso de medicamentos adequados e de apoio psicológico, é perfeitamente possível controlar a doença por longos períodos e levar uma vida normal. Também é muito importante que o paciente não interrompa a medicação pois isso pode desencadear estados de depressão e mania mais intensos. O paciente bipolar deve restringir seu uso de alcool e drogas e cafeína e manter uma vida saudável com quantidade de sono suficiente, em horários regulares, alimentação equilibrada e atividade física. Todos estes fatores auxiliam na estabilização do quadro.
Qual a diferença entre o psicólogo e o psiquiatra?
O psiquiatra tem formação médica, portanto, ele pode administrar remédios. O psicólogo não. Ambos podem fazer psicoterapia. No entanto, nem todo psiquiatra é psicoterapeuta, a maioria dos psiquiatras se atém a parte médica e a prescrição de medicação.
Portanto, no tratamento do transtorno bipolar, é importante que o paciente procure um psiquiatra para fazer um acompanhamento medicamentoso e que procure um psicoterapeuta ( que pode ser tanto um psicólogo, quanto um psiquiatra) para fazer um acompanhamento psicoterapeutico.
Serpentes d´água (detalhe) por Gustav Klimt
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