Por que (não) fazer psicoterapia?
Diante de uma doença física ninguém reluta em procurar um profissional especializado. Contudo, o mesmo nem sempre acontece quando a dificuldade se trata de um problema emocional. Por preconceito ou desconhecimento, algumas pessoas rejeitam os processos de psicoterapia. Vejamos alguns dos motivos pelos quais as pessoas se recusam a procurar um psicólogo.
1-Eu não sou louco (a)!
Na verdade, psicólogos e psiquiatras
não tratam apenas de pacientes psicóticos - vulgarmente chamados de “loucos” -
que são aqueles indivíduos que perdem o contato com a realidade externa, não
sabendo distinguir entre o mundo interior e o mundo exterior. Os
psicoterapeutas também trabalham com neuróticos, que são as ditas “pessoas normais”,
que possuem conflitos internos ou de adaptação que lhe causam sofrimento psíquico.
A neurose, nada mais é que uma tentativa malograda de adaptação. Pacientes
neuróticos podem se beneficiar grandemente de processos psicoterapêuticos. Além
disso, a psicoterapia também é uma ótima oportunidade para se conhecer melhor e
viver uma vida mais significativa e de acordo com orientações que emanam de seu
eu mais profundo.
2- Eu não vou ficar falando da minha vida para um desconhecido!
Num primeiro momento, pode
parecer desconfortável abrir suas questões mais intimas para uma pessoa com a
qual você ainda não tem intimidade. Contudo, essa relação de confiança vai se
estabelecendo com o tempo graças ao ambiente livre, protegido e sem julgamento
proporcionado pelo setting terapêutico e pelo sigilo profissional. Existe uma
razão muito especial pela qual é importante que o psicólogo não seja seu “amigo”
ou lhe conte detalhes de sua vida pessoal. Isso serve para preservar aquilo que
chamamos de “transferência”, ou seja, os conteúdos de sua vida pessoal que
serão projetados nesta relação e deverão ser trabalhados para que você se
conscientize e tenha a oportunidade de abandonar velhos padrões que já não
funcionam mais.
3- Eu não preciso ir ao psicólogo, eu posso desabafar com meus amigos.
Amigos são pessoas muito
especiais e é muito bom saber que podemos contar com eles em diferentes
momentos de nossa vida. Contudo, um amigo pode apenas lhe oferecer um conselho,
baseado em suas próprias experiências. Eles não possuem o treinamento e a
neutralidade necessários para auxiliá-lo a encontrar o seu caminho individual e
a fazer suas próprias escolhas. Além disso, transformar a relação de amizade em
uma relação de ajuda pode onerar a troca fraternal e com o passar do tempo lhe
afastar de seus amigos que estarão cansados de ouvir sempre as mesmas
reclamações e se sentindo incapazes de ajudar.
4- Eu já fiz e não funciona!
Se você já esteve em um processo psicoterapêutico
e sente que não se beneficiou dele, você deve observar os seguintes fatores:
A psicologia possui diversas
linhas teóricas, pode ser que você não tenha se adaptado à linha de seu
psicoterapeuta. Procure se informar sobre as diferentes linhas teóricas e
procure um profissional que trabalhe com aquela que você mais se identificar.
Pode ser que você não tenha se
adaptado ao profissional em questão. Antes de buscar um psicólogo,
certifique-se sobre sua formação, consulte o CRP para saber se o profissional
possui registro ativo, peça indicação aos amigos. E cuidado! Existem pessoas sem formação adequada e que se intitulam
psicoterapeutas.
Por fim, observe se você não possui um padrão auto
sabotador, no qual você se coloca sempre no lugar de vítima das circunstâncias
ou situações e possui a convicção de que “nada tem solução”. Pode ser que você
esteja sabotando sua possibilidade de ser mais bem resolvido e feliz.
5- Como é que aquele (a) psicólogo (a) vai me ajudar? Ele não pode acabar com os meus problemas!
Você tem razão. Nenhum
psicoterapeuta possui uma vara de condão capaz de eliminar os percalços em sua
vida. Contudo, ele pode auxiliá-lo a se fortalecer diante de determinadas situações
ou a enxergar as coisas por outra perspectiva. Muitas vezes as mudanças mais
importantes acontecem em nosso mundo interior, se refletindo assim em nosso
mundo exterior. O objetivo da
psicoterapia não é o de levá-lo a um estado impossível e idílico de felicidade e
contentamento eternos. O real objetivo do processo é fortalecê-lo para que
tenha firmeza e tranquilidade diante das inevitáveis dificuldades e
circunstâncias da vida.
6- Psicólogo também tem problemas!
Assim como o cardiologista não
está imune a um ataque no coração ou o neurologista a um AVC, o psicólogo não
está acima das contingencias da vida. Assim como você, ele também é um ser
humano, que possui suas dificuldades e inquietações existenciais. Contudo,
através de sua análise pessoal, ele aprende a identificar aquilo que ainda não
está bem resolvido internamente e a encaminhar para outro colega os pacientes
que tiverem as mesmas questões apresentadas por ele. Ademais, existem casos em
que o próprio psicoterapeuta já passou e superou uma problemática como a sua, e
é justamente esta humanidade que torna o profissional mais capaz de ser
empático e lhe compreender com mais profundidade. Psicólogos não são
super-heróis, mas eles possuem o treinamento e o autoconhecimento necessários
para auxiliar você.
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